6 de setembro de 2010

O rio da minha infância

Cansado o sol escorre por traz da montanha.
Olho o imundo rio de pele suja e morta,
encobre-no encardidas nuvens de espumas.
Corro, tropeço em trilhas turvas pelas sombras.

Fujo das sombras que me aterrorizam
são peixes enormes escamados pela soda
caranguejos monstros amputados pelos ácidos.

Entre os sujos casebres do beco do Haroldo
corta o vento quente soprado da papeleira,
é o podre mau hálito, o cheiro do lucro,
a morte rondando a minha infância.



Antônio Perin

Pergunta oportuna aos que lêem o livro

Uns querem pão e água, amor e poesia.
Outros justificam suas atitudes com palavras duras.
Uns procuram poder e dinheiro e ostentar autoridade.
Outros trabalham de sol a sol e agradecem pela vida.
Uns dominam máquinas e moram em palácios.
Outros têm o luar por travesseiro.

Uns conquistam impérios e possuem latifúndios.
Outros constroem um muro de fé sobre colunas de barro.
Uns têm fábricas e seus rebanhos lotados em grandes linhas de montagem.
Outros não têm onde descansar sua cabeça.

Uns e outros são entes humanos e rumo ao ignorado,
os muitos que foram chamados e os poucos escolhidos.
Mas o que lhes restará quando a vida, frágil
Brinquedo, se acabar?

Emerson Teixeira Cardoso