24 de abril de 2012

Chicos 34



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Nesta edição:
Emerson Teixeira Cardoso, Flausina Márcia da Silva, Carlos Figueiredo, Jorge Figueroa, Antônio Perin, José Vecchi de Carvalho, José Antonio Pereira, Adelton Gonçalves, Alberto Bresciani, Joaquim Branco, Manoel Hygino dos Santos e Ronaldo Cagiano. 


15 de abril de 2012

Convite de Altamir Soares

Poema de Antônio Perin

A Casa morta II


Ao José Vecchi

Lá na casa dos Carneiros
Sete candeeiros são acesos...
Elomar




Zé!  A casa da rua Alferes caiu!
O cheiro da nossa infância foi-se.
A açucena-branca no aço do portão
lacrimejou no fio da  foice do peão.


Tratores avançaram sem alvará
o último átimo do Pequeno al-fãriz
brandindo  o aço de sua cimitarra
forjada do mais diáfano verbo
foi chorar um acorde da guitarra.


Zé! O cheiro da manga
agora só na gôndola
O roxo da jabuticaba
só na marca dos imorais.


Tudo a baixo. Tudo... Tudo...
nem soleira alta  nem sótão
nem cumeeira  nem porão
nem assoalho de tábua corrida
nem virgens nuas por entre frestas.


 Doravante Zé
Fruta roubada no pomar.
Nem pensar. Nunca mais.

Al-fãriz  árabe : cavaleiro, escudeiro


12 de abril de 2012

Poema de Günther Grass


O que deve ser dito


 
Porque não digo      
porque calei durante tanto tempo
o que no entanto é evidente
e foi objeto de tantas simulações
em que nós, os sobreviventes,
ficamos melhor em nota de rodapé

Evoca-se o direito a um ataque preventivo,
a erradicação do povo iraniano submisso
obrigado a um regozijo sem alegria por um fala-barato,
com o pretexto de que este potentado estaria a construir uma bomba atómica.

Mas então, porque me proíbo
de nomear este outro país
que possui há anos
- é certo no maior dos segredos -
de um potencial nuclear crescente
e escapando a qualquer controlo
posto que nenhuma inspeção é permitida ?

O silêncio geral à volta deste facto conhecido
este silêncio ao qual também eu subscrevi
sinto-o como uma pesada mentira
uma regra de ouro que não pode ser quebrada
sem sofrer o risco de uma penosa e infame condenação:
a acusação de anti-semitismo tão frequente.

Mas hoje, enquanto o meu país
culpado de crimes incomparáveis
pelos quais deve prestar contas ainda e ainda
portanto, o meu país, num gesto puramente comercial
- alguns falarão precipitadamente de reparação -
vai entregar um novo submarino a Israel,
um engenho cuja especialidade é de disparar
ogivas capazes de destruir tudo o que é vivo
num sítio onde nem se provou
a existência de uma única bomba nuclear
num sítio onde a suspeita serve de prova,
digo o que deve ser dito.

Porque me calei tanto tempo?
Porque acreditava que as minhas origens
manchadas por crimes jamais perdoáveis
me proibiam de exprimir esta verdade
de ousar censurar Israel deste fato,
país de que sou e quero continuar a ser amigo.

Porque só agora, velho,
num último sopro da minha caneta, digo
que a potência nuclear de Israel
ameaça a já frágil paz mundial ?
Porque agora há que dizer
o que poderá ser demasiado tarde amanhã
e porque nós, os Alemães, com o peso do nosso passado,
podemos nos tornar os cúmplices de um crime
previsível e portanto impossível
de justificar com as desculpas habituais.

Porque não digo
porque calei durante tanto tempo
o que no entanto é evidente
e foi objeto de tantas simulações
em que nós, os sobreviventes,
ficamos melhor em nota de rodapé

Evoca-se o direito a um ataque preventivo,
a erradicação do povo iraniano submisso
obrigado a um regozijo sem alegria por um fala-barato,
com o pretexto de que este potentado estaria a construir uma bomba atómica

Mas então, porque me proíbo
de nomear este outro país
que possui há anos
- é certo no maior dos segredos -
de um potencial nuclear crescente
e escapando a qualquer controlo
posto que nenhuma inspeção é permitida?

O silêncio geral à volta deste fato conhecido
este silêncio ao qual também eu subscrevi
sinto-o como uma pesada mentira
uma regra de ouro que não pode ser quebrada
sem sofrer o risco de uma penosa e infame condenação:
a acusação de anti-semitismo tão frequente.

Mas hoje, enquanto o meu país,
culpado de crimes incomparáveis,
pelos quais deve prestar contas ainda e ainda,
portanto, o meu país, num gesto puramente comercial,
- alguns falarão precipitadamente de reparação -
vai entregar um novo submarino a Israel,
um engenho cuja especialidade é de disparar
ogivas capazes de destruir tudo o que é vivo,
num sítio onde nem se provou
a existência de uma única bomba nuclear,
mas num sítio onde a suspeita serve de prova,
digo o que deve ser dito.

Porque me calei tanto tempo ?
Porque acreditava que as minhas origens
manchadas por crimes jamais perdoáveis
me proibiam de exprimir esta verdade,
de ousar censurar Israel deste fato,
país de que sou e quero continuar a ser amigo.

Porque só agora, velho,
num último sopro da minha caneta, digo
que a potência nuclear de Israel
ameaça a já frágil paz mundial?
Porque agora há que dizer
o que poderá ser demasiado tarde amanhã
e porque nós, os Alemães, com o peso do nosso passado,
podemos nos tornar os cúmplices de um crime
previsível e portanto impossível
de justificar com as desculpas habituais.

Também devo admitir que, agora, jamais calarei,
porque estou farto da hipocrisia do Ocidente
e espero que serão muitos os que estão
prontos a libertar-se das amarras do silêncio
para apelar ao autor de uma evidente ameaça
a renunciar à violência e exigir
um controle permanente e sem entraves
do potencial atómico israelita
e das instalações nucleares iranianas
por uma instância internacional
aceita pelos dois governos.

Só assim poderemos ajudar
os Israelitas e os Palestinos
e melhor, todos os povos,
irmãos inimigos vivendo lado a lado
nesta região ameaçada pela folia mortífera
e afinal de contas a nós próprios.

Também devo admitir que, agora, jamais calarei,
porque estou farto da hipocrisia do Ocidente
e espero que serão muitos os que estão
prontos a libertar-se das amarras do silêncio,
para apelar ao autor de uma evidente ameaça
a renunciar à violência e exigir
um controle permanente e sem entraves
do potencial atómico israelita
e das instalações nucleares iranianas
por uma instância internacional
aceita pelos dois governos.

Só assim poderemos ajudar
os Israelitas e os Palestinos
e melhor, todos os povos
irmãos inimigos vivendo lado a lado
nesta região ameaçada pela folia mortífera
e afinal de contas a nós próprios.

Tradução: Ana da Palma - da francesa de Michel Klepp  

Illustratus: Juan Gatti

Illustratus: Juan Gatti: O argentino Juan Gatti faz belíssimas ilustrações que misturam anatomia humana, plantas e animais exóticos.  Além de ser fotógrafo e de...

10 de abril de 2012

Um poema de Paul Celan

Inverno

Cai agora, mãe, neve na Ucrânia:
Da coroa do Salvador feita com milhares de grãos de tormento.
De minhas lágrimas aqui, nenhuma chega até ti.
De antigos acenos somente uma orgulhosa mudez...
Nós já estamos morrendo: o que você não dorme, barraca?

Também este vento gira como um afugentador...
São eles, que sentem frio na escória, de fato -
as b a n d e i r a s-corações e os braços-l u z e s?

Eu permaneci o mesmo nas trevas:
salva-se a tília e se desnuda a severidade?
Das minhas estrelas que tanto doem quanto rasgam
as cordas de uma muito alta harpa...

Nisso urge às vezes uma hora de rosas.
Extinta... Uma. Sempre uma...
O que seria, mãe: crescimento ou ferida -
submergirei também eu nas dores da neve da Ucrânia?

2 de abril de 2012

Sapeca 1


Sapeca
Misto de sapo e perereca
21/03/2012 – Editor: Tonico Soares

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