24 de julho de 2013

Carteira de cronista


                      Numa linguagem que remete ao Salinger de O apanhador do campo de centeio, José Antonio busca num tempo perdido (e no agora,) da mítica infância/adolescência o assunto de suas deliciosas crônicas.  E aí está, a meu ver, a sua maior qualidade: uma técnica sui-generis aliada a uma memória cinematográfica.
 Mas, é ele um autor inédito?
Mais ou menos: José Antonio integrou o quarteto que veio a se chamar de Os cronistas da rua Alferes, em referência ao livro que publicou juntamente com Vanderlei Pequeno, Emerson Teixeira Cardoso e José Vechi: Portanto é quase inédito, exceto pelos artigos e contos publicados na e-zine Chicos, alguns constando neste Fantasias de Meia Pataca.
José Antonio, escreve e consegue o que ao meu ver é indispensável na boa prosa: unir o sentimento à arte, pois o sentimento é arte também, e ambos são expressão. 
O livro quando nos leva à representação da infância evoca nomes, lugares, firmas comerciais, acontecimentos políticos, festas populares, como as quermesses da igrejinha do Rosário, o carnaval, de onde resgata a gostosa marchinha, Citran de Cataguarino: “Citran de Cataguarino chegô...ô...ô...ô... Trouxe um varal de galinha... uma cestinha de ovos... Citran de Cataguarino chegô”.
Mas o lado Macunaíma é revelado com a ironia existente em outras faces de seu estilo: Milagres de economistas; O meu mil novecentos e sessenta e oito, Primeiro de abril de 1964 e, Não é minha culpa.
Pedi a um jovem que desse uma olhada nos originais de Fantasias de Meia P ataca e depois perguntei o que tinha achado do livro, e ele: Na crônica, A vila, depois de dizer o que era ela para ele na sua infância, José Antonio completou: “Notei, que meus amigos estavam engrenados num papo sobre futebol. Acho que até o leitor me abandonou.”    Pelo contrário, o meu interesse no livro ali apenas começou – emendou o rapaz.
Seu lado cinematográfico nos leva a perambular pelo Bixiga dos anos 80, sua Roma paulista.  Só mesmo um cinéfilo de carteirinha para nos guiar pelo felliniano bairro estabelecendo uma correspondência entre este e a emblemática capital italiana com direito a Fonte de Trevi, Anita Elkberg como em La Dolce Vita. Entre mentiras, verdades e fantasias rolava muito papo e cerveja.
Pelas mãos de Ady Resende, é singela homenagem que nos remete ao início dos nãos 70 quando tivemos as primeiras impressões do colégio de Niemeyer, para chegar ao artesanato popular o mestre nos guiava pelas barras gregas, o desenho geométrico, o artístico, com suas sombras e perspectivas e à pintura propriamente dita com o necessário aprendizado de suas cores básicas.   E só depois de passar pelos clássicos, Rembrant, Matisse, Van Gogh, Toulose Lautrec, Portinari que ainda estava ali na nossa cara causando estranhamento.
Para finalizar estas já longas considerações acerca do belo livro de crônicas do José Antonio, destacarei o Barbastião, os dois o bar e dono, infelizmente já extintos ressurgem nas figuras do Cossaco, Rubão e outros bebuns anônimos e incorrigíveis, onde nas sextas-feiras como nas outras também era servido regiamente o tradicional café dos três efes: frio, fraco e fodido. Entra Vasco era a senha para voltarem os olhos para a calçada quando mulher bonita passava pela porta do boteco.
Quem se arvorar a leitura deste Fantasias de Meia Pataca não se arrependerá da empreitada. O José Antonio tem bala. 

                                                   Emerson Teixeira Cardoso                        

20 de julho de 2013

Jornal Atual

Na página 4 um papo de José Antonio Pereira com Ricardo Quinteiro.