26 de maio de 2014

Sapeca



Sapeca
Misto de sapo e perereca
Nº 5 – Maio/2014 - Editor: Tonico Soares

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4 de maio de 2014

Quem se lembra de Paulo Martins?


Emerson Teixeira Cardoso


                Por que ninguém se lembrou ainda de merecidamente homenageá-lo dando seu nome a um dos muitos centros culturais que Cataguases se orgulha de ter e que teimam em aparecer ad infinitum para a “glória de sua história que relembramos agora?”.
Muitos foram os grupos ou agremiações literárias que, aqui surgiram nas últimas décadas.    Todos significativos ou no mínimo capazes de inspirar nas gerações mais novas o desejo de realizações criadoras, do fazer artístico.
Ninguém representou melhor este espírito empreendedor, essa disposição e vigor do que Paulo Martins.
Cineclubista em seus belos dias, depois de incursionar pelo Teatro do Absurdo, a poesia Marginal (Claudio Willer lançou juntamente com Sérgio Lima e Décio Bar suas primeiras obras poéticas a convite dele), iniciando por aqui as atividades do CAC – Centro de Arte de Cataguases. O CAC, consequência do Cine Clube Serguei Eisenstein pretendia aglutinar as artes plásticas, literatura, teatro, cinema, escultura numa postura singular e crítica que não suportava ideias conservadoras. O jornal “Evolução” vinculava seus textos escatológicos para o escândalo de um público para o qual a recém chegada televisão constituía a maior novidade.
Do intercâmbio com outros grupos foram dar em Nova Friburgo para uma encenação de Eugene Ionesco, “O mestre” iniciando uma fase mais teatral cuja denominação já dizia tudo no que se referia as suas ideias futuras: “Tablado Atômico”.
Em tudo e de tudo era Paulo um líder, um agente ou reagente das estruturas edificadoras dos edifícios das artes, que a seu ver pediam ações modificadoras, rápidas, extremas, profícuas.
Numa sala do prédio onde ficava as instalações da antiga Radio Cataguases realizou-se uma exposição de um artista holandês, Isaac Monteiro, os visitantes pouco afeitos a seu estilo novo e transgressor deixaram o local assustados, vivamente impressionados com aqueles trabalhos de uma renovação exacerbada.
Com Paulo Martins era assim: Não compreendia a arte que não fosse com o objetivo de transformar o indivíduo e seu meio que dormitavam numa realidade cultural estagnada, estática, passiva.
O Centro de Arte de Cataguases, buscava intensamente uma arte baseada na experimentação.  Do seu convívio no Rio de Janeiro com gente de cinema adquiriu a experiência necessária para a realização de seu filme. Uma produção toda dele que até mesmo no nome traduzia na medida certa seus conceitos artísticos: “O Anunciador O homem das Tormentas.”
Nesse filme figuravam além de Carlos Moura no papel título: Silvério Torres, Agenor Sereno, Haroldo Cardoso, Mário Cesar, Waldelar Moreira, Zélia Sereno entre outros.
Cataguases vivia pela primeira vez, depois da criação da Phebo Filmes, em clima de cinema.
Eu que sempre fui um entusiasta desta produção, tenho-a visto sempre com interesse, ciente de sua importância, seja pela originalidade do roteiro, pela técnica inovadora, pela narrativa estranha, pela sua trilha sonora.
Por isso não compreendo o descaso, (real ou aparente) para com esta obra e me pergunto sempre:   Quanto vale o trabalho que nos legou Paulo Martins?  Como a cidade se lembra dele?
Paulo Bastos Martins continua a fazer cinema. Vive atualmente em Campinas, São Paulo, dando aulas de cinema na Unicamp – Poucas vezes voltou a Cataguases, (da última vez, à uns vinte anos para a exibição de seu filme na FIC (Antiga FAFIC).
Ninguém se arvorou ainda de lembrá-lo com uma exposição iconográfica, uma homenagem da Câmara de vereadores, uma menção honrosa.
Para disfarçar essa grande injustiça bem que poderia aparecer por aqui um Cine Clube Paulo Martins.

Vamos pensar nisso?