27 de janeiro de 2010

Saudade

*Zeca Junqueira

Junto com o pó trazido pela ventania da chuva
que entrou pela janela
(desesperadamente aberta) do
apartamento de fundos
veio uma folha verdinha, verdinha
trazendo notícias da vida que em algum lugar
insiste em verdejar.
Que saudade!, folha verdinha,
que saudade você me fez sentir de outro lugar
verdinho, tão verdinho
lá atrás, lá longe, tão longe...você veio de lá?

*Zeca Junqueira (Cataguases – MG)

Colégio Cataguases






*Emerson Teixeira




Dimensões que um olhar só não alcança,
mas pára]
na impassividade pétrea do Pensador
O poente é a mão que dá corda à melancolia.



*Emerson Teixeira Cardoso (Cataguases – MG)
foto de Vicente Costa

22 de janeiro de 2010

O que é Poesia?

Poesia são pensamentos que respiram, e palavras que queimam.

Thomas Gray

20 de janeiro de 2010

Terra em transe

*Ronaldo Cagiano
Sobre as escarpas sem fim
lá onde o horizonte se confunde com o tédio
dos olhos que vêem um mundo sem conserto
trovoadas rangem em meu coração.

São as catedrais de dúvidas
que se levantam
e insistem
no duro engenho das compreensões.

As vozes agudas ferroam
com a mesma intensidade dos acicates:
consciência efervescente
no vácuo das torres de marfim inócuas
que habita os corações.

Cataguases Buenos Aires Teerã
Berlim Pirapetinga Lisboa
Nova York Brasília
Alentejo
geografias do ocaso
no arremato dos acasos
onde pululam pássaros aziagos

e os homens ensimesmados
habitam cidades sem memória,
cemitério dos vivos.

Museu de ossos
expondo olhos extenuados
pela visão do território devastado
com suas reminiscências de luto
miséria
medo.

Sussura bem longe uma chuva
e suas águas
as mesmas que invadiram
os porões da infância
é agora rio imóvel
que não lava
a intempérie das mortes antigas
que se renovam
nos obituários que não se fatigam.
*Ronaldo Cagiano (São Paulo SP)

Riacho triste

Relendo Meia Pataca de Chico Peixoto

*José Antonio Pereira


Aflora em mim uma necessidade
de cantar a tua ausência que dói.
Escorregar pelos teus barrancos
sentindo o teu barro quente junto à pele
queimando os ossos como aguardente no peito,
me jogar em tuas barrentas e frias águas,
ser percorrido pelo frio na espinha
de percorrer-te por dentro.
Ver tua amarelada escuridão
tocar teu leito arenoso, onde abrigavas teu viço,
outrora deflorado por bateadores.

Maldito progresso que te prostituiu.
Rasgaram-te à procura de pepitas
arrancaram teus verdes cabelos,
que nas chuvas eram uma profusão de cores e contas.
Hoje fábricas ejaculam, não sêmen de vida
mas licores negros e mortíferos.
Te pintam de negro, te defecam, te matam.
Como é dolorido te olhar meia pataca.
*José Antonio Pereira (Cataguases - MG)

Um poema de Zeca Junqueira


Estrelas



Cavar o chão e extrair poesia
com as garras escrever o poema
o poema da terra
o poema do humo
a linguagem dos homens
depois
gentilmente opô-lo às estrelas
- gentilmente, pois elas são belas
mas tão indiferentes ao nosso olhar e
para as quais tanto faz
o nosso pranto ou o nosso riso
os nossos versos ou o nosso grito.
Não faça poemas às estrelas.



Zeca Junqueira

13 de janeiro de 2010

Poergia

Zeca Junqueira

Poesia bailarina
stripper sem pudor à luz do dia
desliza e baila no
palco branco da
folha de papel vazia
meneia, perfuma, incendeia,
chama
ancas, coxas, seda
music-orgia
lápis agonia que
desliza rijo no
papel em branco da
folha vazia
papel violino
teclado
dorso
grelo
toco
busco o verso...
euforia!
a poesia desliza e baila
sem pudor à luz do dia
subo ao palco
perco o verso
deslizo e bailo
empino
gozo
desatino.

Zeca Junqueira (Cataguases)