30 de março de 2012

Um poema de Thomas Hardy


Um encontro com o desespero


              Quando à noite no ancoradouro escuro
                         os olhos não pude mais suster
                         da escura terra as formas eu juro
                         a semelhança tinha de todo sofrer

                         Tal cena a minha própria vida
                         onde muitas tristezas me disseram como existem
                         parecida por destino a um monte morto
                         onde muitas desgraças vivem

                         Dei uma olhada e parei
                         Ao ver no alto, a respiração aflita
                         as nuvens acendiam a sua gloria
                         E então pensei:
                         Há por aqui uma paz bendita
                         Aí a mim reprovações eu dava;
                         quedei-me assim silenciosamente
                         Qual perversa e falsa divindade
                         Se revoltasse desconformemente

E no horizonte à contramão a roda
formou-se algo de aspecto estranho
E lá estava, horrível, sem socorro, percebi
não sei como a essa visão eu resisti
“Este é um lugar despovoado, morto onde mesmo à luz,
é pura escuridão: disse aquilo a mim
‘mas não olhando ao alto!” disse-lhe eu
pensando enfim.

“Sim, mas um pouco espere”! gritou “Ho – Ho...
Olhe ao alto agora e veja!”
Olhei. Ali também, só noite. O show celeste
foi-se enfim.   Então riu-se ele de mim.

Tradução Emerson Teixeira Cardoso        



29 de março de 2012

Poeta feminista Adrienne Rich morre aos 82 anos nos EUA

Por Steve Gorman

LOS ANGELES, 29 Mar (Reuters)

          A poeta e ensaísta Adrienne Rich, figura da literatura feminista celebrada tanto por suas reflexões profundamente pessoais sobre sua vida quanto por comentários sociais mordazes, morreu aos 82 anos, disseram familiares na quarta-feira.
Adrienne, que recebeu diversas honras, incluindo o Ruth Lilly Poetry Prize e National Book Award, pela obra que abrange sete décadas e é uma das mais reunidas em coleção do século 20, morreu na terça-feira em sua casa em Santa Cruz, na Califórnia, afirmou a nora Diana Horowitz.
Diana disse que Adrienne não resistiu a complicações de uma artrite reumatoide, doença da qual sofria há anos.
A poeta, que viveu e escreveu abertamente como lésbica pela maior parte de sua vida adulta, começando em uma era em que a homossexualidade era amplamente condenada na sociedade norte-americana, tornou-se pioneira na luta pelos direitos das mulheres e de outras minorias.
"Ela realizou em verso o que Betty Friedan, autora de 'A Mística Feminina', fez na prosa", escreveu Margalit Fox sobre o bardo da pioneira feminista no obituário do The New York Times.
O site da Poetry Foundation chamou-a de "uma das principais intelectuais públicas dos EUA".
Nascida em Baltimore, em 1929, seu pai era um renomado patologista e professor da John Hopkins. Sua mãe era pianista.
Ela se formou na Radcliff University e se casou com um professor de economia de Harvard, Alfred Conrad, em 1953, com quem teve três filhos. Seu marido morreu em 1970 e seis anos mais tarde ela foi morar junto com sua parceira Michelle Cliff.

Haicais de Millôr Fernandes



estrela cadente
ponto de exclamação
quente

com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério

tem cautela;
ajuda o sol
com uma vela

Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha.

na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua

o cético sábio
sorri
só com um lábio

Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril.



(27.05. 1924 - 27.03.2012)



Rendemos aqui nossas homenagens ao desenhista, 
tradutor, jornalista, roteirista de cinema,  dramaturgo.
Ou seja, o artista total.

27 de março de 2012

Poema de Zeca Junqueira

Woodstock


suave furiosa profana
feia linda marginal
rainha psicodélica
incêndio de cores
bola de fogo e mel
eu vi Janis Joplin cantar.

ela era um rochedo
com arestas de diamantes
onde vagas de música iam bater
e se recortar em oceanos de sons
raivosos
encantados
souls.

eu vi Janis Joplin cantar
e as vagas de música foram tantas
tão intensas e tão belas e
tanto nela bateram
que o rochedo de diamantes
quebrou.

Zeca Junqueira