6 de setembro de 2010

O rio da minha infância

Cansado o sol escorre por traz da montanha.
Olho o imundo rio de pele suja e morta,
encobre-no encardidas nuvens de espumas.
Corro, tropeço em trilhas turvas pelas sombras.

Fujo das sombras que me aterrorizam
são peixes enormes escamados pela soda
caranguejos monstros amputados pelos ácidos.

Entre os sujos casebres do beco do Haroldo
corta o vento quente soprado da papeleira,
é o podre mau hálito, o cheiro do lucro,
a morte rondando a minha infância.



Antônio Perin

Pergunta oportuna aos que lêem o livro

Uns querem pão e água, amor e poesia.
Outros justificam suas atitudes com palavras duras.
Uns procuram poder e dinheiro e ostentar autoridade.
Outros trabalham de sol a sol e agradecem pela vida.
Uns dominam máquinas e moram em palácios.
Outros têm o luar por travesseiro.

Uns conquistam impérios e possuem latifúndios.
Outros constroem um muro de fé sobre colunas de barro.
Uns têm fábricas e seus rebanhos lotados em grandes linhas de montagem.
Outros não têm onde descansar sua cabeça.

Uns e outros são entes humanos e rumo ao ignorado,
os muitos que foram chamados e os poucos escolhidos.
Mas o que lhes restará quando a vida, frágil
Brinquedo, se acabar?

Emerson Teixeira Cardoso

16 de julho de 2010

Canto Final

Hoje eu sei

meu couro é negro
pele e pelos
curtidos
no sal e sol do atlântico
marcados no açoite
calejados no peso do trabalho.

Sei que
minha carne é branca
adaptável
se ajusta a toda latitude
qualquer lonjura
leva anticorpos
coletados por todo lado
memória do muito andado
de tomar mandar predar
num mundo navegado.

Já, os ossos
são da terra
brasis
pau-ferro duro de roer
nativo índio
impossível dobrar
duro de queixo
herança de minha
avó
(bisavó tetravô quem sabe?)

do mato
pega a laço
coitada prenha
viveu pra
cuidar a cria.

Hoje sei.
Hoje.

Fernando Abritta (Juiz de Fora)

29 de junho de 2010

Cataguases



Foi ontem,
o jornal noticiou a tragédia:
Cataguazes morreu!


As sanhas do vulcão dilatam o orgasmo.
Incesto da alma que repousa no teu colo maternal.


Homens e mulheres rodando a praça
como um carrossel divergente.
O que procuram entre cinzas e escombros?

A praça Rui Barbosa,
Escapou-nos, assim assim
as formas frágeis do menino esvazie-se.
Onde? Em mim.

Havia brasões em famílias sem realeza:
o mural Inconfidência Mineira, de Portinari,
as obras de Burle Marx, Joaquim Tenreiro,
Djanira e Bruno Giorgi,
o filho da Dona Cidinha,
o flautista, como aquele de Hamelim,
o velho Pagé, carpideiro,
as Marias devotas de Santa Rita de Cássia,
e o Colégio Cataguases, de Niemeyer.
Há de haver um esconderijo para o medo.

Carpinteiros, sobreviventes, marcham em passos lentos
num lamento: são os cupins! São os cupins!
Gemiam os altofalantes da sede municipal.
Depois da grama sobre o presente passado,
o silêncio...

Cataguases morreu?
Vestirei o luto,
enquanto neste tumulto submerge o berço.
nas lágrimas uma vigília de ossos.

Comala mineira.
Há almas flutuando
sobre ruas e avenidas,
cavando túmulos,
jantando seus mortos,
com a avidez de um famélico.

Os mortos falam, deixam cantigas, ditam romances,
afagam as frontes,
esperam o futuro, como em Macondo.

Ainda há ourovida nessa Minas?

Escuto rumores, enquanto agonizo:
Cataguazes morreu, Cataguases?

Cataguazes! Cataguases!
as águas do rio Pomba
lavam todos os templos
enquanto permaneço.



Eltânia André (São Paulo - SP)

A mão que escreve o poema



Minha mão que escreve versos
Sabe lá o que faz minha mão

Vós que ainda sois capaz de condenar a poesia
perdoai a mão

A mão que escreve o poema
obedecendo a razão.


Foto de Humberto Ribeiro

Emerson Teixeira Cardoso (Cataguases - MG)

22 de junho de 2010

Autoretrato

Quando nasci, uma parteira,
dessas que nos inauguram
na febre dos dias, disse:
Vai, menino! ser alguém no mundo,
saia de Cataguases
para não ficares menor que ela.

Contemplo a sentença
da ampulheta:
em tudo há urgência
e sinais de partir,
apesar da gente vagarosa do interior
do provincianismo das conversas imutáveis
da mediocridade dos que enterram a solidão
numa mesa de bar
com seus copos cheios
e suas histórias vazias


que há tanto cansaço e maldade
e que apenas duas mãos
são insuficientes
para suportar o peso dos sentimentos
e a carga abissal mundo.

Meu coração inquiridor
conheceu bem cedo
as fraquezas de Deus
a hipocrisia das religiões

e o susto de viver
- muito mais vasto que toda a fé -
ensinou-me a rimar
indigência com desamor.

Não, não havia solução
apesar do coração vasto
e de sua ciência em reconhecer
a verdade
o luto
o conhaque
o diabo
a política
a globalização.

Alguns anos vivi
em Minas
outros tantos
(que me deram régua e compasso)
passei em Brasília,
mas foi dentro de mim
nas entranhas férreas
da alma incontida
que descobri
a explicação farta da vida:

a flor no asfalto
a náusea do existir
abriram o mar vermelho
de minhas dúvidas
para que eu saísse
do cativeiro das idéias prontas
e da moral obesa e sonolenta
dos que dividem as coisas
em impiedade e santificação.

Não tive ouro nem gado,
muito menos fazendas
mas sinto-me mal e compulsório
nesse rebanho catatônico,
nesse curral de bancários
em que me lançou o destino.

Em vão, falo de livros e filmes
em vão vejo meus colegas adormecerem
quando o assunto é Kafka ou Truffaut.
Ou se falo de Fellini ou Thomas Mann,
provoco um 11 de setembro
em suas passivas e alienadas
consciências,
pois seus horizontes não passam do
Maracanã ou
dos circos de pagode.

Esse lugar em que me (des)habito
fronteiriço do hospício e do calabouço,
é uma Itabira pesada demais,
a pedra no caminho
de josés sem agora.

Trabalho com engulhos
nesse mundo coisifcado e caduco
e se a orquídea e a caliandra
ainda sobrevivem
ao agreste desterro
ou às cinzas do passado,
para ressuscitar nos jardins de Laura,
é porque nos meus olhos a revolta
tem a carga de uma bomba
apesar de tantos problemas
emergirem sem solução
regidos força do impasse.

As pessoas continuam as mesmas,
em São Paulo ou Istambul
às margens do Bósforo
ou ao largo do fétido Pomba
no aislamiento da Patagônia
ou numa agreste Catamarca:

sem a mínima esperança
de passar o Jordão
ou colher o pão dormido
na já desbotada antemanhã.

Os homens de negócios
seguem com seu espírito,
convictos mas esquálidos,
não leram Joyce
nem sabem que Maiakovski
prenunciou no Brasil
a existência do único cidadão feliz
mas eles continuam tão certos de suas cifras
enquanto a safra de idiotas
engorda o mundo
e não sentem remorso
paixão
nem pânico
e prosseguem sem nenhuma ênfase.

A noite chega novamente
mas ela é anterior aos meus cansaços,
a ruína dos ossos
não me impede de andar
de mãos dadas
com um grande amor.

É preciso dinamitar a realidade
que nos suicida a cada dia
e instaura a trôpega
imaginação dos moribundos.
Ronaldo Cagiano (São Paulo- SP)

15 de junho de 2010

O RISCO DA NOITE



Ante os meus olhos transidos



dos cavalos das trevas


como brasas sopradas


saltam faíscas e cinzas




O hálito espesso

de alcatrão e enxofre


em suas narinas expele


astros em extinção




Impossível não ver


em suas crinas lutuosas


o aço da noite


se oxidando em sangue


como um sol coagulado.




Fosse um sonho e a cera baça dos móveis


acenderia os carvões


como a arandela no breu


desperta adagas e anéis




Inútil proteção,


os pijamas de lã se agitam


ao forno do vento


que açula as bestas noturnas


e seca nosso suor gelado.




A que horas nasce o dia? pergunto a meu irmão.



Quando a noite arrastada


por esse cortejo de animais soturnos


se afastar coroada


pela negra lua nova.




Desperta, vai.


Sombras geram sombras.


E janelas sem vidros


não protegem a cegueira


do risco de ver


esses corcéis desalados


sujos de fuligem e medo..




Olha agora


que um fio dourado se desenha


na soleira da porta do quarto.




Do livro inédito - De Campo Marcado




Francisco Marcelo Cabral (Rio deJaneiro - RJ)
Foto de Humberto Ribeiro

2 de junho de 2010

Emigrados

Emigrados:
seremos sempre,
emigrados.

Em busca de outro mar,
da última ilha,
seguindo os pássaros,
atrás do último pássaro.

De um mar a outro,
de uma ilha à outra ilha,
e, então, dormiremos,
uma noite sucedendo-se à outra.

(Brasília, 9 de outubro de 2008)

Emanuel Medeiros Vieira (Brasília – DF)

Astrolábio

Para Lucas, meu filho

A bússola e o astrolábio:
velas ao vento.
Existe outro Bojador nestes mapas
interiores?
Os navegadores estão no exílio:
há faróis neste degredo?
Findou a aventura no mundo.

Singrando-me, cumpro-me.
Além de mim, além da vida:
do pó que serei.


Emanuel Medeiros Vieira (Brasília – DF)

Orla


Era uma vez grande
orla branca no amarelo
suspensa em verde haste


Bem acima da infância
a quem faltam palavras


Da orla se vê o chão
grãos de tudo se vêem


Era uma flor uma vez
chamada margarida


Diferente da rosa, era só flor
nada mais se via nela
criança branca e amarela
chama o vermelho do sol


Também amante da terra
marrom, raiada de brilhos.


Água, incha margarida
orgulho
borbulho
tibum da margarida


Agora, grande crescida
fazer o quê do mundo?
Flausina Márcia da Silva (Cataguases – MG)

23 de maio de 2010

Próximo à viagem

*Arturo Herrera


Aqui em meu quarto
restarão todas as coisas que
me acompanham.
Ainda que em minha escrivaninha
se abisme o último grão da vertical de areia,
continuará incessante em meu corpo.
No regresso, seu eu regressar, os livros terão algo de poeira.
A tarde se acostumará
à penumbra do silêncio.
Somente deixo minha ausência.
*Arturo Herrera
(San Fernando de Catamarca Arg.)
Tradução Ronaldo Cagiano

Fim das ruas

*Arturo Herrera


Morre a numeração cansada;
este é um limite. Daqui,
o horizonte prolonga a solidão de areia.
Uma chama pestaneja pelas noites,
ilumina um pedaço de pão compartilhado.
Todo possível ruído
foge em silêncio;
só os cachorros adoram a lua.
O frio trêmulo lastima a pobreza
e já é desprezada a bela chuva
pelo seu costume de invadir as casas.
Morrer-se aqui é apagar os olhos
para não ver os sofrimentos.
Todos usam palavras iguais para o morto:
tem um rosto tão sereno.

Choro de uma criança nova!
Há outro herdeiro dos sofrimentos.
*Arturo Herrera
(San Fernando de Catamarca Arg.)
Tradução Ronaldo Cagiano

Amanhecer

*Arturo Herrera
As árvores vão tocar o alvorecer;
a folharada úmida já foi amada.
Aqui, embaixo, os murmúrios e ruídos;
a alma se estremece nas veredas;
ninguém reconhece os pássaros;
as flores vivem como a brisa quer
o espaço silente e a intimidade morrem.
A praça nos salva de algumas mortes.

*Arturo Herrera
(San Fernando de Catamarca - Arg.)
Tradução Ronaldo Cagiano

Irreflexos






A frescura lilás das violetas
frente às águas da tarde.
É crepúsculo nas trepadeiras da varanda.

A noite que chega mansa
transfigura os cicios das gotas
em vespas sobre as flores.

O coração alegra-se com as dores do amor
cravadas em sua forma
recortada em duas dálias rubras.

Levanta-se o forro do mundo
e a terra do céu
cai sobre a vida
– bálsamo do que se quebrou nas alturas.





Lina Tâmega Peixoto (Brasília - DF)

12 de abril de 2010

o que é poesia?


É tão fácil ser poeta, e tão difícil ser um homem.



Charles Bukowski

24 de fevereiro de 2010

Homo sapiens

*Flausina Márcia da Silva


Enquanto passa o vento
também corre o tempo
nas veias do meu tambor.

Há um espírito
rondando todos
que espelham
dois braços
um abraço
um amor.

Me diga seu nome
de batismo ou suador
nos encontraremos
na Grécia
China
ou Equador.

Rio Acima, mar adentro
é sempre carne de barro
que desfaz e refaz o perigo
nosso amigo desde sempre.

São coisas diferentes
o andaime e o andor
são só passos
sua casa
minha cruz.
*Flausina Márcia da Silva (Cataguases - MG)

Anna Swirszczynska

Ana Swirszczynska (Varsóvia 7/2/1909 – Cracóvia 30/09/1984) Em algumas edições ocidentais seu sobrenome aparece simplificado (Swir). Sua obra aborda temas variados indo de referências autobiográficas, suas experiências durante a II guerra, a maternidade o corpo feminino e a sensualidade. Nasceu em uma família de artistas humildes, publicou seus primeiros poemas nos anos 30. Durante a ocupação nazista participou da Resistência e publicou em revistas clandestinas. Em 1944 durante o Levante de Varsóvia atuou como enfermeira. Estas experiências durante a guerra refletiram em sua obra - Budowalam barykade (Levantando a barricada, 1974) - onde descreveu a dor e o sofrimento daqueles tempos. Também escreveu com grande sinceridade sobre o corpo feminino durante distintas etapas de sua vida.
Ele tinha sorte

Um velho homem
sai de casa carregando livros.
O soldado alemão arranca-lhe os livros
atirando-os à lama.

O velho homem apanha-os,
o soldado acerta-lhe a cara.
O velho homem cai,
o soldado chuta-lhe e sai caminhando.

O velho homem
atirado na lama sangra.
Embaixo do corpo sente
os livros.

O segundo madrigal


Uma noite de amor
deliciosa como um
concerto dentro da velha Veneza
executado por deliciosos instrumentos.

Saudável como a
bunda de um anjinho.
Erudito como
formigueiro
Extravagante no ar como
o sopro dentro do trumpete
Copioso como o reino
de um casal negro
sentado em dois tronos
moldados em ouro.

Uma noite de amor com você,
É uma grande e fantástica batalha
com dois vitoriosos.
Tradução de José Antonio Pereira

10 de fevereiro de 2010

Fragrâncias noturnas

*Leonardo de Paula
A dúvida visitou minha noite
e espalhou seus segredos.
De súbito, acordei meus olhos,
Para enxergar os sonhos
E despertar as certezas.
*Leonardo de Paula Campos (Cataguases – MG)

27 de janeiro de 2010

Saudade

*Zeca Junqueira

Junto com o pó trazido pela ventania da chuva
que entrou pela janela
(desesperadamente aberta) do
apartamento de fundos
veio uma folha verdinha, verdinha
trazendo notícias da vida que em algum lugar
insiste em verdejar.
Que saudade!, folha verdinha,
que saudade você me fez sentir de outro lugar
verdinho, tão verdinho
lá atrás, lá longe, tão longe...você veio de lá?

*Zeca Junqueira (Cataguases – MG)

Colégio Cataguases






*Emerson Teixeira




Dimensões que um olhar só não alcança,
mas pára]
na impassividade pétrea do Pensador
O poente é a mão que dá corda à melancolia.



*Emerson Teixeira Cardoso (Cataguases – MG)
foto de Vicente Costa

22 de janeiro de 2010

20 de janeiro de 2010

Terra em transe

*Ronaldo Cagiano
Sobre as escarpas sem fim
lá onde o horizonte se confunde com o tédio
dos olhos que vêem um mundo sem conserto
trovoadas rangem em meu coração.

São as catedrais de dúvidas
que se levantam
e insistem
no duro engenho das compreensões.

As vozes agudas ferroam
com a mesma intensidade dos acicates:
consciência efervescente
no vácuo das torres de marfim inócuas
que habita os corações.

Cataguases Buenos Aires Teerã
Berlim Pirapetinga Lisboa
Nova York Brasília
Alentejo
geografias do ocaso
no arremato dos acasos
onde pululam pássaros aziagos

e os homens ensimesmados
habitam cidades sem memória,
cemitério dos vivos.

Museu de ossos
expondo olhos extenuados
pela visão do território devastado
com suas reminiscências de luto
miséria
medo.

Sussura bem longe uma chuva
e suas águas
as mesmas que invadiram
os porões da infância
é agora rio imóvel
que não lava
a intempérie das mortes antigas
que se renovam
nos obituários que não se fatigam.
*Ronaldo Cagiano (São Paulo SP)

Riacho triste

Relendo Meia Pataca de Chico Peixoto

*José Antonio Pereira


Aflora em mim uma necessidade
de cantar a tua ausência que dói.
Escorregar pelos teus barrancos
sentindo o teu barro quente junto à pele
queimando os ossos como aguardente no peito,
me jogar em tuas barrentas e frias águas,
ser percorrido pelo frio na espinha
de percorrer-te por dentro.
Ver tua amarelada escuridão
tocar teu leito arenoso, onde abrigavas teu viço,
outrora deflorado por bateadores.

Maldito progresso que te prostituiu.
Rasgaram-te à procura de pepitas
arrancaram teus verdes cabelos,
que nas chuvas eram uma profusão de cores e contas.
Hoje fábricas ejaculam, não sêmen de vida
mas licores negros e mortíferos.
Te pintam de negro, te defecam, te matam.
Como é dolorido te olhar meia pataca.
*José Antonio Pereira (Cataguases - MG)

Um poema de Zeca Junqueira


Estrelas



Cavar o chão e extrair poesia
com as garras escrever o poema
o poema da terra
o poema do humo
a linguagem dos homens
depois
gentilmente opô-lo às estrelas
- gentilmente, pois elas são belas
mas tão indiferentes ao nosso olhar e
para as quais tanto faz
o nosso pranto ou o nosso riso
os nossos versos ou o nosso grito.
Não faça poemas às estrelas.



Zeca Junqueira

13 de janeiro de 2010

Poergia

Zeca Junqueira

Poesia bailarina
stripper sem pudor à luz do dia
desliza e baila no
palco branco da
folha de papel vazia
meneia, perfuma, incendeia,
chama
ancas, coxas, seda
music-orgia
lápis agonia que
desliza rijo no
papel em branco da
folha vazia
papel violino
teclado
dorso
grelo
toco
busco o verso...
euforia!
a poesia desliza e baila
sem pudor à luz do dia
subo ao palco
perco o verso
deslizo e bailo
empino
gozo
desatino.

Zeca Junqueira (Cataguases)