Para Claudio Sesin
Ronaldo Cagiano
Enquanto o cortejo seguia
em meio aos gestos automáticos
das mãos que cerravam as portas
outros continuavam a vida
imunes à que passava,
despojada de sua última chama.
A cidade não seria diferente
porque amanhã
outras notícias viriam
e o rio no qual navegamos,
Tejo a repetir a lógica de Heráclito,
seguiria pontualmente
como o sangue em nossas veias,
entre urgências que se renovam.
Entre o solene despedir dos mortos
e a maquinal dor dos vivos
a criança se demorava
num olhar pensativo e inquiridor
rumo ao insondável.
E percebia,
ainda na antemanhã de sua existência,
que viver é um lento aprendizado de
extinção.
*Ronaldo Cagiano (São Paulo SP)
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