Ante os meus olhos transidos
dos cavalos das trevas
como brasas sopradas
saltam faíscas e cinzas
O hálito espesso
de alcatrão e enxofre
em suas narinas expele
astros em extinção
Impossível não ver
em suas crinas lutuosas
o aço da noite
se oxidando em sangue
como um sol coagulado.
Fosse um sonho e a cera baça dos móveis
acenderia os carvões
como a arandela no breu
desperta adagas e anéis
Inútil proteção,
os pijamas de lã se agitam
ao forno do vento
que açula as bestas noturnas
e seca nosso suor gelado.
A que horas nasce o dia? pergunto a meu irmão.
Quando a noite arrastada
por esse cortejo de animais soturnos
se afastar coroada
pela negra lua nova.
Desperta, vai.
Sombras geram sombras.
E janelas sem vidros
não protegem a cegueira
do risco de ver
esses corcéis desalados
sujos de fuligem e medo..
Olha agora
que um fio dourado se desenha
na soleira da porta do quarto.
Do livro inédito - De Campo Marcado
Francisco Marcelo Cabral (Rio deJaneiro - RJ)
4 comentários:
O poema do Marcelo Cabral vem ainda mais valorizar o seu blog.
Excelente contribuição.
Abraço,
Joaquim
É belissimo o poema.
O risco da noite é o navegar impreciso pela solidão da noite e seus riscos. Onde diabólicas criaturas povoam nossos sonhos e fantasmeiam nossos medos. Gostei e mergulhei fundo no meio desta noite.
José Antonio
Cada poema de Chico Cabral nos acende uma luz imensa. Possibilita um percurso transcendente, no limiar entre a poesia e a reflexão filosófica. Ronaldo Cagiano
Postar um comentário