Por que ninguém se lembrou
ainda de merecidamente homenageá-lo dando seu nome a um dos muitos centros
culturais que Cataguases se orgulha de ter e que teimam em aparecer ad
infinitum para a “glória de sua história que relembramos agora?”.
Muitos
foram os grupos ou agremiações literárias que, aqui surgiram nas últimas
décadas. Todos significativos ou no
mínimo capazes de inspirar nas gerações mais novas o desejo de realizações
criadoras, do fazer artístico.
Ninguém
representou melhor este espírito empreendedor, essa disposição e vigor do que
Paulo Martins.
Cineclubista
em seus belos dias, depois de incursionar pelo Teatro do Absurdo, a poesia
Marginal (Claudio Willer lançou juntamente com Sérgio Lima e Décio Bar suas
primeiras obras poéticas a convite dele), iniciando por aqui as atividades do
CAC – Centro de Arte de Cataguases. O CAC, consequência do Cine Clube Serguei Eisenstein
pretendia aglutinar as artes plásticas, literatura, teatro, cinema, escultura
numa postura singular e crítica que não suportava ideias conservadoras. O
jornal “Evolução” vinculava seus textos escatológicos para o escândalo de um
público para o qual a recém chegada televisão constituía a maior novidade.
Do
intercâmbio com outros grupos foram dar em Nova Friburgo para uma encenação de
Eugene Ionesco, “O mestre” iniciando uma fase mais teatral cuja denominação já
dizia tudo no que se referia as suas ideias futuras: “Tablado Atômico”.
Em
tudo e de tudo era Paulo um líder, um agente ou reagente das estruturas
edificadoras dos edifícios das artes, que a seu ver pediam ações modificadoras,
rápidas, extremas, profícuas.
Numa
sala do prédio onde ficava as instalações da antiga Radio Cataguases
realizou-se uma exposição de um artista holandês, Isaac Monteiro, os visitantes
pouco afeitos a seu estilo novo e transgressor deixaram o local assustados,
vivamente impressionados com aqueles trabalhos de uma renovação exacerbada.
Com
Paulo Martins era assim: Não compreendia a arte que não fosse com o objetivo de
transformar o indivíduo e seu meio que dormitavam numa realidade cultural
estagnada, estática, passiva.
O
Centro de Arte de Cataguases, buscava intensamente uma arte baseada na
experimentação. Do seu convívio no Rio
de Janeiro com gente de cinema adquiriu a experiência necessária para a
realização de seu filme. Uma produção toda dele que até mesmo no nome traduzia
na medida certa seus conceitos artísticos: “O Anunciador O homem das
Tormentas.”
Nesse
filme figuravam além de Carlos Moura no papel título: Silvério Torres, Agenor
Sereno, Haroldo Cardoso, Mário Cesar, Waldelar Moreira, Zélia Sereno entre
outros.
Cataguases
vivia pela primeira vez, depois da criação da Phebo Filmes, em clima de cinema.
Eu que
sempre fui um entusiasta desta produção, tenho-a visto sempre com interesse,
ciente de sua importância, seja pela originalidade do roteiro, pela técnica
inovadora, pela narrativa estranha, pela sua trilha sonora.
Por
isso não compreendo o descaso, (real ou aparente) para com esta obra e me
pergunto sempre: Quanto vale o trabalho
que nos legou Paulo Martins? Como a
cidade se lembra dele?
Paulo
Bastos Martins continua a fazer cinema. Vive atualmente em Campinas, São Paulo,
dando aulas de cinema na Unicamp – Poucas vezes voltou a Cataguases, (da última
vez, à uns vinte anos para a exibição de seu filme na FIC (Antiga FAFIC).
Ninguém
se arvorou ainda de lembrá-lo com uma exposição iconográfica, uma homenagem da Câmara
de vereadores, uma menção honrosa.
Para
disfarçar essa grande injustiça bem que poderia aparecer por aqui um Cine Clube
Paulo Martins.
Vamos
pensar nisso?