10 de dezembro de 2014

Opinião do Luiz Ruffato em El País


Meus romances preferidos

Existem dois tipos de listas: as necessárias e as inúteis, sendo que em muitos casos, dialeticamente, as necessárias tornam-se inúteis e as inúteis, necessárias.... Continuem a ler aqui

8 de dezembro de 2014

Poema de Ronaldo Cagiano à Manoel de Barros




Leitura de Manoel de Barros

Na pa 
           lavra, 
absolvição dos vermes
redenção das folhagens
cumplicidade da terra
                          animais
                          homens

Flor escrachada
que se celebra
contra o almanaque das raízes

            promessa de sementes
            sondagens no aluvião

Subversão espontânea
de todas as entranhas
secreto fluido
na origem de tudo.

Verbo sem desleixo
apregoando edital das coisas
                                   bichos
                                    seres
 (interlocução com a natureza)

A curva do rio,
vértice do poema
na vertigem do asfalto
promessa de sementes

eis a palavra a palavra a palavra

a palavra se germina
e gesticula  nos purgatórios
e se instala, voci-
                          ferando
campo de chama e prazer  
e
o poema o poema o poema 
narciso redivivo,
o poema se cumpre  inaudível
mas soberano
como os cetáceos nos pélagos do mar.

E se impõe e se instala
entre avencas retesadas
na sintaxe do barro
no fonema da areia
                        miliardário destino
solidário
como o seio da mulher
metáfora das maçãs
quais casulos soberanos
            memórias das árvores
           devaneio de luas e girassóis

(e)terna a gramática
que se expõe no chão estrelado
segredando outras lições
no latifúndio das frutas
ou no riacho que se vinga
no espetáculo do trajeto
de tugúrio  em  busca do mar.


(Do livro “Canção dentro da noite”, Ed. Thesaurus, DF, 1998)

                                    Ronaldo Cagiano