27 de julho de 2009

Zune

Zeca Junqueira
O poeta é faca e
a poesia pedra de amolar.
Enquanto não vem a carne podre a ser cortada
a lâmina zune afiando na pedra que gira
e zune
e zune
e zune.
Zeca Junqueira (Cataguases – MG)

10 de julho de 2009

Dois Chicos e meia

*Emerson Teixeira
Meu caro amigo Chico
Criador da Meia Pataca
Que como Chico Peixoto
Eu admiro pacas

Permita que eu lhe pergunte
É o senso humano que indaga
Desculpe a brincadeira
Que o próprio ego te afaga.

Dois Franciscos que se prezam
Um dia correram esse risco
Levar no mínimo ao máximo
Essa paixão pelos livros

Um fez o Meia Pataca livro
O outro a passou em revista
Mas, se eram dois e ambos Chicos.

Ambos com Meias Patacas
Por que não fizeram juntos,
Uma Pataca inteira?

Por que não fizeram à meia?
*Emerson Teixeira Cardoso (Cataguases -MG)

8 de julho de 2009

Pastoreio

Para Eduardo Dalter
*Ronaldo Cagiano

Hóspede do impossível
desafio as cartilagens do tempo
com as esporas do sonho.

Dos espasmos oníricos
com seu arsenal de enigmas

lavro uma geografia agreste

para colher
nas glebas da ansiedade
as ervas do êxito
com seus gumes de mel

Pastor de ilusões
a pregar no deserto de crepúsculos
converto-me em latifundiário de estrelas
e venço as varizes da noite
com meu repertório de delírios.

*Ronaldo Cagiano (São Paulo SP)

7 de julho de 2009

AUGUSTO BOAL

(1932-2009)


*Teresinka Pereira

Naqueles anos
de exílio
não qualificado
de "tortura"
encenávamos
o absurdo da vida
em um festival de teatro
na Califórnia.
O absurdo nos fazia
denunciar
a ditadura militar
sem aceitá-la.
Hoje me entregas
uma quota de absurdo
que não me permite
negá-lo: tua morte.
Sentiremos tua falta,
companheiro Boal,
para sempre.


*Teresinka Pereira

6 de julho de 2009

Dois bares giram enlaçados

*Francisco Inácio Peixoto


As amarguras se encontravam,
somos três pensando em ti.

Eu desenho o teu retrato
no pano sujo e rasgado
que cobre a mesa do bar.

Os músicos derrotados
tocam coisas muito tristes.
Se a noite não fosse aqui,
talvez fizessem chorar.

A lembrança vai crescendo
com as rodelas do chope,
Se derrama pelas mesas,
Sobre as mulheres sem dentes,
Sobre os homens sem amor.

E eles e elas giram,
giram as flores dos cabelos,
palavrões e giram os copos
e no Bar 49,
em torno de teu retrato

Gira, gira, gira tudo,
gira em torno do gigante,
que me acarinha e sorri.
Gira o bar e gira a Lapa,
gira orquestra, gira a vida,
giragirando por ti.

Em São Paulo, havia noites
e tu ficavas no bar.
Luís Saia e os rapazes
conversadinho contigo,
eu ficando a te escutar.

Será triste o Franciscano,
será deserto sem ti.
Osvaldo, Iglesias, Fernando,
Nunca mais beber ali.

Oto, Carlos, Pelegrino,
Dantas Motta, Rubião
Figueiró, Paulo e Jair,

Clemente, Ernande, Bueno
Luiz Saia, irmãos pequenos,
Não mais beber ali não

17.03.1945
*Francisco Inácio Peixoto
(05.04. 1909 – 08.01.1986)