21 de dezembro de 2007

Wildiana - Emerson Teixeira

Não quero ver no teu rosto a cor do desprezo,
Uma expressão de maldade onde havia alegria.
Tu não suportarás a idéia de ter uma alma feia,
nem serias completamente feliz...
Ó, Doriana de olhar gris, este é o bem que
eu sempre te quis.

Emerson Teixeira

Cataguases - Janaína Ceribelli

Eu não entendo
esse chão de pedrinhas
que todo mundo passa em cima
que continua aleatoriamente levando
todo mundo
de um canto a outro da cidade
a cidade (em todo canto) canta
a música
das solas
dos saltos
e calcanhares no chão de pedrinhas

Janaína Ceribelli

A verdade - Zeca Junqueira

A carne envelhece,
os ossos enfraquecem
os sonhos desvanecem
a beleza desce pelo mesmo ralo por onde tudo desce e
entre fezes
pelo mesmo esgoto
e
s
c
o
r
r
e
em direção ao rio
que leva
a lugar nenhum.

Zeca Junqueira

Poema pré-nupcial - Henrique Silveira

Minha noiva tem faces quase pálidas
como as de uma virgem louca,
que não é louca
e nem é virgem...
Minha noiva tem os olhos queimados
de velar-me tanto, tanto,
nas clareiras abertas
nos bosques abandonados.
e vela...
Minha noiva, que tem, os olhos queimados
e as faces quase pálidas,
é irmã da morte, que não faz morrer.


*Henrique Ignacio Silveira (Cataguases-MG 1919-1943)

Columna de Fuego - Claudio Sesín

Y en el frío estelar, inevitable,
E no frio estelar, inevitável,

entre las despedidas, que envejecen y callan,
entre as despedidas, que envelhecem e calam

y a ansiedad y el vertigo
entre a ansiedade e a vertigem

con que la incertidumbre cubre a los viajeros
e a incerteza com que se cobre os viajantes

al retumbar de gritos y de besos,
entre o burburinho de gritos e beijos,

de diarios y valijas,
de jornais e maletas,

de pisos sucios, cicarrillos y lágrimas,
de pisos sujos, cigarros e lágrimas

anterior al momento, presentida,
anterior ao momento, presentida,

vi,
vi,

como un fuego perfecto que el porvenir abraza
como um fogo perfeito que ao futuro abraça

desde sui magia inacabable,
em sua magia inacabada,

que ella,
que ela,

en silencio,
em silêncio

sostenía el mundo.
sustenta o mundo.


Claudio Sesín (San Fernando del Valle de Catamarca -Arg)
Tradução José Antonio Pereira

Exílios - Ronaldo Cagiano

A cidade se des(d)enha em seus próprios labirintos:
pelas serpentes de pedra e asfalto
corre pressuroso um rio de animais metálicos.

Não há mais lugar pra os homens.
Anônimos, como areia na ampulheta,
vamos caindo atarefados em busca
da outra margem: a utopia.

A metrópole, como ventre,
espera o desconhecido, e na solidão geométrica
nascem catedrais de ausências.

Se Paris está lendo Paulo Coelho,
eis minha vingança:
Vou ler Proust em Cataguases


Ronaldo Cagiano

14 de dezembro de 2007

O vôo da morte - Antônio Perin


Rompendo o negrume do oceano
soa a marcha fúnebre dos motores
Hiroshima acorda num pacífico horizonte azul.
Das entranhas da prateada serpente alada
brota um filho da puta - o ovo negro
Após o relâmpago da loucura
o olho secou na lágrima
a boca emudeceu no grito
pessoas foram codaquiadas nas paredes
Enquanto isto em Hollywood
Robert Taylor beija Eleanor Parker
em Above and Beyond.

Antônio Perin

Diálogo - Guilhermino Cesar

Não te falo, e tu me matas,
não me falas, e eu te mato.
Chegaremos juntos, depressa!
À humanidade abstrata.


Guilhermino Cesar (Eugenópolis MG 1908 -1993 Porto Alegre RS)

Lá na Ásia... Emerson Teixeira


Lá na Ásia tinha um alvo
a cidade de Hiroshima
Calcularam que era bastante
a carga radioativa
Guerra de Hiroshima
espelhas o horror que o ódio nos causa...
Lembrem-se de Hiroshima,
do fim de Hiroshima,
Mas também de como foi possível,
a reconstrução de Hiroshima.

Emerson Teixeira

À moda de Paul Celan - Zeca Junqueira


Poema algum denuncia esse caos absoluto
esse horror pendente
- que se rebele o Cosmos
com seus exércitos celestes! -
é vã a poesia contra tal desordem.
À altura então o que dizer
- não contra a bomba – essa indizível!
Mas contra esse sentir comodamente
que foi bom não ter ainda entrado
no mundo quando ele,
surpreendido em sua doação
por um momento deixou de existir?


Zeca Junqueira

Conversa de Chicos

Chicos é uma publicação de Cataguases -MG.
Ele circula na internet por correio eletrônico a algum tempo. Todos interessados em literatura.
Atendendo a alguns amigos criamos mais este canal de interação.
Colabore, participe, fique a vontade.
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