6 de julho de 2009

Dois bares giram enlaçados

*Francisco Inácio Peixoto


As amarguras se encontravam,
somos três pensando em ti.

Eu desenho o teu retrato
no pano sujo e rasgado
que cobre a mesa do bar.

Os músicos derrotados
tocam coisas muito tristes.
Se a noite não fosse aqui,
talvez fizessem chorar.

A lembrança vai crescendo
com as rodelas do chope,
Se derrama pelas mesas,
Sobre as mulheres sem dentes,
Sobre os homens sem amor.

E eles e elas giram,
giram as flores dos cabelos,
palavrões e giram os copos
e no Bar 49,
em torno de teu retrato

Gira, gira, gira tudo,
gira em torno do gigante,
que me acarinha e sorri.
Gira o bar e gira a Lapa,
gira orquestra, gira a vida,
giragirando por ti.

Em São Paulo, havia noites
e tu ficavas no bar.
Luís Saia e os rapazes
conversadinho contigo,
eu ficando a te escutar.

Será triste o Franciscano,
será deserto sem ti.
Osvaldo, Iglesias, Fernando,
Nunca mais beber ali.

Oto, Carlos, Pelegrino,
Dantas Motta, Rubião
Figueiró, Paulo e Jair,

Clemente, Ernande, Bueno
Luiz Saia, irmãos pequenos,
Não mais beber ali não

17.03.1945
*Francisco Inácio Peixoto
(05.04. 1909 – 08.01.1986)

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