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1 de janeiro de 2012
13 de dezembro de 2011
ESCOMBROS DE PRÉDIOS DERRUBADOS VIRAM LIXEIRA DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS
Mauro Sérgio Fernandes
Simplesmente patético. Patético e desolador. Então o prédio da redação do "Cataguases" foi demolido...Ao tomar conhecimento dessa notícia, veio-me à lembrança o outro prédio situado na rua Coronel Vieira, onde, na década de 50, ficava a reação do "órgão oficial dos poderes municipais" e onde eu passava horas e horas de minha mocidade. Entrava pelo portãozinho do lado, dobrava a direita logo em seguida e entrava naquele salão antigo, onde o Butão, o Mário e o Alzir Arruda conversavam sobre a próxima edição, geralmente discutindo, discordando e até mesmo se estranhando.
A cena era semanal, quase sempre a mesma, e o velho Alzir, com o cigarro no canto da boca, saía pisando duro, esbravejando alto e xingando entre dentes (e, às vezes estridente). Butão me saudava, relembrando os tempos do escotismo em Cataguases, quando eu, ainda com quatro aninhos, desfilava garbosamente como mascote dos escoteiros, na frente da bateria, sob o comando do chefe, o sempre tranquilo Cabo Hélio.
Depois, vinha o Mário. Conhecido como Mário da Redação, ele me exibia a prova gráfica de minha crônica para eu fazer a revisão final. Não muito raramente, eu me encontrava com Manuel das Neves, exímio cronista considerado o "Rubem Braga cataguasense". Para mim, ele era também o Dr. Manuel, Diretor do Colégio de Cataguases. Melhor que qualquer Academia, redação de jornal do interior tem algo de sacralidade, da dimensão de um "templo do saber e da cultura".
Agora, em nome do progresso vão derrubar um prédio também antigo. Coisa velha e antiga não se sustenta em cabeças insensatas, ainda que essa "coisa velha, antiga" tenha o sentido histórico e o sentimento de eternidade. Pior ainda : nos escombros foram enterrados documentos, preciosidades históricas do século XIX, nos quais foram registrados atos e fatos da história política, cultural e social de nossa Princesa da Mata.
Pra quem possui um mínimo de sensibilidade, isso dói. E doendo, gera indignação.
Pois bem, senhores donos do Poder. Comprem o prédio do Cine Edgard. Continuem na mesma insensibilidade de não terem preservado a Casa da Rua Alferes.
Derrubem tudo, arrasem tudo, destruam tudo.. Pisem nos maltrapilhos que dormem sob as marquises. Arranquem as flores dos jardins, apaguem todas as luzes, ressequem todas as fontes, apodreçam todos os frutos, sequem o Rio Pomba, rasguem com talhos de gilete e navalha todas as telas e murais. Decretem o fim do carnaval e de todos os festejos populares, queimem todos os livros, condenem à forca todos os escritores, pintores, músicos e artistas. Tomem de assalto todos os palanques, todos os sindicatos e emudeçam as rádios e todos os veículos de comunicação. Assaltem os Bancos, transportem todas as cédulas de reais e todas as moedas de centavos para a banheira de suas casas e vão tomar banho, o banho mais mefistofélico de todos os tempos. Banhem-se nessa banheira sem água, fedendo como o vil metal, porque vocês também irão feder. Fedam-se. Fodam-se.
Mauro Sérgio Fernandes
Cataguasense hoje radicado em Brasília,
um dos maiores intelectuais da história
cataguasense, foi professor de português
de muitos jovens por aqui, que se tornaram
talentosos escritores.
30 de novembro de 2011
Um poema de Fina García Marruz
Se meus poemas
Fina García Marruz
Havana - Cuba
Se todos meus poemas perdessem
a pequena verdade que brilha neles
permaneceria igual a pedra
cinza
junto à água ou em uma grama verde.
Se todos os poemas se perdessem
o fogo seguiria nomeando-os sem fim
limpando-os de toda escoria, e da poesia
eterna
voltariam rugindo, outra vez, como o amanhecer.
versão: Antônio Perin
24 de novembro de 2011
22 de novembro de 2011
Poema de Kurihara Sadako
Eu vi Hiroshima
Kurihara Sadako (Hiroshima - Japão)
Nada se vê em Hiroshima.
Hiroshima: cidade de prédios e carros.
Casais de blue jeans cochilam
em bancos situados nos parques
uma criancinha corre atrás dos pombos sobre a relva.
O cogumelo atômico,
o cenotáfio -
São apenas gotas para instantâneos.
Não, isto é o que eu vi.
Pessoas sentadas em grupos como ascetas
sobre o meio-fio defronte ao cenotáfio.
Movendo-se lenta
e silenciosamente,
ligados em testes nucleares subterrâneos
no deserto de logínquos países
e no silencioso ruído das cinzas mortíferas
que explodem no ar,
gente que já viram o inferno atômico.
Pessoas sentadas no meio-fio
que conversam com mortos,
reunem-se aos mortos
para clamar pela paz.
Isto foi o que vi.
Gente em Hiroshima
sentados nos meio-fios
clamando pela paz.
Tradução: Emerson Teixeira Cardoso
Poema de Terezinka Pereira
Wall $treet
Germina o protesto
contra a usura
os ricos se assustam
mas o acampamento
continua funcionando.
Veio a polícia
para defender
o estabelecimento
mas o acampamento continua.
Há que fazer mais barulho,
mais passeatas, mais greves
e sobretudo, mais gente
milhões de indignados
tomando a determinação
de fechar a WALL $TREET
dos ricos e propor
uma MAIN STREET
com trabalho e recursos
para todos
Terezinka Pereira
(Blufton - Ohio - EUA)
(Blufton - Ohio - EUA)
15 de novembro de 2011
Um haicai de Masaoki Shiki
Misturados
aos arbustos das cerejeiras
as asas dos pássaros
Versão : Emerson Teixeira Cardoso
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