16 de fevereiro de 2009

Um poema de Antônio Perin


Pesadelo


“As almas de nossos ancestrais ainda
latejam em nós dores já esquecidas, quase
como o homem ferido que sente dor na
mão que perdeu” Jules Michelet


Dói-me às costas a chibata do senhor de escravos
Coronel, major, barão, doutor, mascate...
Pouco importa, sei que era um pereira.

Grande latifundiário, herdeiro de sesmaria, de capitania...
Hereditário mercador de quinquilharias e africanos.

Um destes pereiras era senhor de meu ancestral
O fidalgo “pereira” o fez chegar as terras do Jequitinhonha
faiscador nos intestinos das minas de Diamantina.
Ali, quantos negros pereiras brotaram marcados a ferro,
registrados em cadernetas de feitores,
lançados a termo, garantindo débitos
Todos... Todos propriedade do senhor pereira
Quantos pereirinhas congaram, choraram, cantaram
míticos amores, brancos estrupos, lendas e fé.

Mergulho no passado da estupidez branca
sublevo na senzala o espírito subjugado.
Com a doce alegria ameríndia
expurgarei a fé branca imposta
purgarei o aceite do açoito
libertarei a alma dos grilhões
com os atabaques chorarei as almas mortas.
Assim liberto os futuros pereiras do jugo dos pereiras de antanho.



Antônio Perin

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