15 de junho de 2010

O RISCO DA NOITE



Ante os meus olhos transidos



dos cavalos das trevas


como brasas sopradas


saltam faíscas e cinzas




O hálito espesso

de alcatrão e enxofre


em suas narinas expele


astros em extinção




Impossível não ver


em suas crinas lutuosas


o aço da noite


se oxidando em sangue


como um sol coagulado.




Fosse um sonho e a cera baça dos móveis


acenderia os carvões


como a arandela no breu


desperta adagas e anéis




Inútil proteção,


os pijamas de lã se agitam


ao forno do vento


que açula as bestas noturnas


e seca nosso suor gelado.




A que horas nasce o dia? pergunto a meu irmão.



Quando a noite arrastada


por esse cortejo de animais soturnos


se afastar coroada


pela negra lua nova.




Desperta, vai.


Sombras geram sombras.


E janelas sem vidros


não protegem a cegueira


do risco de ver


esses corcéis desalados


sujos de fuligem e medo..




Olha agora


que um fio dourado se desenha


na soleira da porta do quarto.




Do livro inédito - De Campo Marcado




Francisco Marcelo Cabral (Rio deJaneiro - RJ)
Foto de Humberto Ribeiro

4 comentários:

Joaquim Branco disse...

O poema do Marcelo Cabral vem ainda mais valorizar o seu blog.
Excelente contribuição.

Abraço,
Joaquim

Anônimo disse...

É belissimo o poema.
O risco da noite é o navegar impreciso pela solidão da noite e seus riscos. Onde diabólicas criaturas povoam nossos sonhos e fantasmeiam nossos medos. Gostei e mergulhei fundo no meio desta noite.

José Antonio

Anônimo disse...

Cada poema de Chico Cabral nos acende uma luz imensa. Possibilita um percurso transcendente, no limiar entre a poesia e a reflexão filosófica. Ronaldo Cagiano

Francisco Marcelo Cabral disse...
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