24 de fevereiro de 2010

Homo sapiens

*Flausina Márcia da Silva


Enquanto passa o vento
também corre o tempo
nas veias do meu tambor.

Há um espírito
rondando todos
que espelham
dois braços
um abraço
um amor.

Me diga seu nome
de batismo ou suador
nos encontraremos
na Grécia
China
ou Equador.

Rio Acima, mar adentro
é sempre carne de barro
que desfaz e refaz o perigo
nosso amigo desde sempre.

São coisas diferentes
o andaime e o andor
são só passos
sua casa
minha cruz.
*Flausina Márcia da Silva (Cataguases - MG)

Anna Swirszczynska

Ana Swirszczynska (Varsóvia 7/2/1909 – Cracóvia 30/09/1984) Em algumas edições ocidentais seu sobrenome aparece simplificado (Swir). Sua obra aborda temas variados indo de referências autobiográficas, suas experiências durante a II guerra, a maternidade o corpo feminino e a sensualidade. Nasceu em uma família de artistas humildes, publicou seus primeiros poemas nos anos 30. Durante a ocupação nazista participou da Resistência e publicou em revistas clandestinas. Em 1944 durante o Levante de Varsóvia atuou como enfermeira. Estas experiências durante a guerra refletiram em sua obra - Budowalam barykade (Levantando a barricada, 1974) - onde descreveu a dor e o sofrimento daqueles tempos. Também escreveu com grande sinceridade sobre o corpo feminino durante distintas etapas de sua vida.
Ele tinha sorte

Um velho homem
sai de casa carregando livros.
O soldado alemão arranca-lhe os livros
atirando-os à lama.

O velho homem apanha-os,
o soldado acerta-lhe a cara.
O velho homem cai,
o soldado chuta-lhe e sai caminhando.

O velho homem
atirado na lama sangra.
Embaixo do corpo sente
os livros.

O segundo madrigal


Uma noite de amor
deliciosa como um
concerto dentro da velha Veneza
executado por deliciosos instrumentos.

Saudável como a
bunda de um anjinho.
Erudito como
formigueiro
Extravagante no ar como
o sopro dentro do trumpete
Copioso como o reino
de um casal negro
sentado em dois tronos
moldados em ouro.

Uma noite de amor com você,
É uma grande e fantástica batalha
com dois vitoriosos.
Tradução de José Antonio Pereira

10 de fevereiro de 2010

Fragrâncias noturnas

*Leonardo de Paula
A dúvida visitou minha noite
e espalhou seus segredos.
De súbito, acordei meus olhos,
Para enxergar os sonhos
E despertar as certezas.
*Leonardo de Paula Campos (Cataguases – MG)

27 de janeiro de 2010

Saudade

*Zeca Junqueira

Junto com o pó trazido pela ventania da chuva
que entrou pela janela
(desesperadamente aberta) do
apartamento de fundos
veio uma folha verdinha, verdinha
trazendo notícias da vida que em algum lugar
insiste em verdejar.
Que saudade!, folha verdinha,
que saudade você me fez sentir de outro lugar
verdinho, tão verdinho
lá atrás, lá longe, tão longe...você veio de lá?

*Zeca Junqueira (Cataguases – MG)

Colégio Cataguases






*Emerson Teixeira




Dimensões que um olhar só não alcança,
mas pára]
na impassividade pétrea do Pensador
O poente é a mão que dá corda à melancolia.



*Emerson Teixeira Cardoso (Cataguases – MG)
foto de Vicente Costa

22 de janeiro de 2010

20 de janeiro de 2010

Terra em transe

*Ronaldo Cagiano
Sobre as escarpas sem fim
lá onde o horizonte se confunde com o tédio
dos olhos que vêem um mundo sem conserto
trovoadas rangem em meu coração.

São as catedrais de dúvidas
que se levantam
e insistem
no duro engenho das compreensões.

As vozes agudas ferroam
com a mesma intensidade dos acicates:
consciência efervescente
no vácuo das torres de marfim inócuas
que habita os corações.

Cataguases Buenos Aires Teerã
Berlim Pirapetinga Lisboa
Nova York Brasília
Alentejo
geografias do ocaso
no arremato dos acasos
onde pululam pássaros aziagos

e os homens ensimesmados
habitam cidades sem memória,
cemitério dos vivos.

Museu de ossos
expondo olhos extenuados
pela visão do território devastado
com suas reminiscências de luto
miséria
medo.

Sussura bem longe uma chuva
e suas águas
as mesmas que invadiram
os porões da infância
é agora rio imóvel
que não lava
a intempérie das mortes antigas
que se renovam
nos obituários que não se fatigam.
*Ronaldo Cagiano (São Paulo SP)