14 de março de 2008

Algozes - Zeca Junqueira

(Inspirado no poema Inexílio,
de Francisco Marcelo Cabral)
Eu também decido que nada,
Cataguases
nem a traiçoeira fala nem a fala estudada
a falsa hospitalidade
o desprezo pelos seus poetas de tanta doçura e
nenhum centavo
nada, Cataguases
nem as costas a mim dada pelo irmão na
permuta da fraternidade pelo dinheiro
pela cupidez que cerra o punho, ameaça e não reparte
nada
nem a troca da vida de coragem e para sempre celebrada
pela vida calada e triste que range os dentes e os ossos e
paga o preço da rendição
vida fedendo a cinzas e a velório
eu também decido que nada,
nem o meu longo exílio, meu perpétuo exílio
nem o medo de que a poesia não sustente a luta
de que o poema não triunfe e não acenda a noite e
eu morra louco e mudo no
escuro das suas ruas de tempo
nada, Cataguases
nem a ameaça de que um dia o amigo enjoe e
no meio do caminho o verso engasgue
o encanto quebre e ele se vá
eu decido que nada
nem a perda da única esmeralda que tirei de ti
nem as suas ruas agora sujas, as suas praças sujas,
a sua oculta gente suja, tudo podre, tudo passado,
tudo vendido e comprado
tudo estragado, tudo fodido
eu decido que nada,
Cataguases
eu decido que nada
nem o pior dos vermes
nem a pior loucura
nada do que se oculta e me assombra nesse lodo fedorento
que corre nas veias de seus algozes
vai me fazer
te amar menos.
Zeca Junqueira

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