18 de junho de 2008

Muito antes da manhã - Guilhermino Cesar

Muito antes da manhã, o poeta,
animal astuto,
pula da placenta para ver o mundo.
As abelhas lhe oferecem
prazeres hindus no abdômen de uma
rosa. O poeta se maravilha.
Depois, no leito de cimento, um cavalo no cio
Esmaga a distância, muito naturalmente,
com as patas. O poeta quase desmaia
de espanto.
E grita: - Onde os pró-anjos?
Mas como não existem pró-anjos, em seu auxílio
salta a cozinheira ostrogoda,
toda besuntada de óleo de baleia.
O poeta, coitado, foge para Pequim,
mas no caminho encontra o absinto
sob a forma ogival de uma polaca
vesga.
Ora bem. Toma o primeiro jato
para a Tasmânia – dizem-na tranqüila.
Ali desembarca, cheio de bugigangas,
num avião de plástico.

Animal astuto, o poeta.
Oculta no espaço
a ignorância de si mesmo.

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