8 de setembro de 2008

Glamour

a Ronaldo Werneck


cinema é celofane
embala em belas cenas
estrelas não menos belas

carros sem capota
cabelos em cascata
pérolas e brilhantes

em decotes flamejantes
nos vestidos longos
leves – esvoaçantes

divas doidivanas redivivas
em anita ekberg
in la dolce vita

Antônio Jaime Soares

Um poema de Milton César Pontes


Do livro Grafoemas


e agora / sou engenheiro do sol / ouço o negror
em seixos / ásperas fendas / garganta crespa /
quilombo totêmico / redução pendente de tábuas /
papelão / plástico / robustecidas sobras deitadas /
escancaradas perífrases verbais / por onde escorre
o céu súbito de violência e resinosa luta / seca
pancada de quem escuta / pergunta / ferra / obriga a
perceber o divino / tertúlias sobre as lajes calcárias
dos rios que sinto / eu com essas tolices na cabeça


Milton César Pontes

Um poema de Antônio Perin


A casa de meus avós



Na velha estrada do horto
bem no alto do Belém
Minha mãe mostra
a casa em que nascera.

Só vejo o capim angola,
o amarelo da estrada
serpenteando
pelas beiradas da morraria


Ela num olhar turvo
olheiras elípticas de saudades
fala de uma casa, paiol e bica
como se lá ainda estivessem.

Só imagino um esqueleto de paus
a ausência de telhas de coxa
folhas arrastadas pelo vento
num terreiro de secar feijão

Onde um dia foi casa,
uma vaca mastiga capim
ruminando os segredos
dos meus avós.

Antônio Perin