4 de dezembro de 2009

Interior

O relâmpago risca e o trovão ribomba tremendo a
tarde na cidadezinha.
Uma criança atende, grita e bate lata a meiadistância.
A mãe ralha:
-- Tem gente morta na capela, seu excomungado.
Pára com isso!
Os mais velhos apavoram-se e preparam rezas e
simpatias para
enfrentar o tempo.
Escurece.
Corisca o relâmpago, explode o trovão, zune o
vento,
a criança responde, bate de novo a lata, a
tempestade desaba,
os mais velhos rezam, a mãe em pânico grita:
--Tira a roupa do varal! Respeita os mortos! Entra!
Na sombria capelinha da igreja o silêncio
ensurdece.
Na casa, o menino ri e bate a lata. A mãe zanga.
Lá fora, na tarde fechada que põe-se a clarear,
indiferente
a tempestade ruge a sua sinfonia para os vivos e
os mortos.

Zeca Junqueira (Cataguases MG)

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