16 de julho de 2010

Canto Final

Hoje eu sei

meu couro é negro
pele e pelos
curtidos
no sal e sol do atlântico
marcados no açoite
calejados no peso do trabalho.

Sei que
minha carne é branca
adaptável
se ajusta a toda latitude
qualquer lonjura
leva anticorpos
coletados por todo lado
memória do muito andado
de tomar mandar predar
num mundo navegado.

Já, os ossos
são da terra
brasis
pau-ferro duro de roer
nativo índio
impossível dobrar
duro de queixo
herança de minha
avó
(bisavó tetravô quem sabe?)

do mato
pega a laço
coitada prenha
viveu pra
cuidar a cria.

Hoje sei.
Hoje.

Fernando Abritta (Juiz de Fora)

3 comentários:

Idalina de Carvalho disse...

Belo poema. Que o lançamento de umÁrvore seja um sucesso, Fernando.

Idalina.
www.idalinadecarvalho.blogspot.com

Isabel Abritta disse...

Memórias. Maravilhosamente poetizadas. Surpreendente, não.
Encantamento esperado.

Maria Stella Assèf Millen disse...

ohh....muito bem!! alem de pelegrino vc è um poeta. gostei da sua poesia.