23 de maio de 2010

Fim das ruas

*Arturo Herrera


Morre a numeração cansada;
este é um limite. Daqui,
o horizonte prolonga a solidão de areia.
Uma chama pestaneja pelas noites,
ilumina um pedaço de pão compartilhado.
Todo possível ruído
foge em silêncio;
só os cachorros adoram a lua.
O frio trêmulo lastima a pobreza
e já é desprezada a bela chuva
pelo seu costume de invadir as casas.
Morrer-se aqui é apagar os olhos
para não ver os sofrimentos.
Todos usam palavras iguais para o morto:
tem um rosto tão sereno.

Choro de uma criança nova!
Há outro herdeiro dos sofrimentos.
*Arturo Herrera
(San Fernando de Catamarca Arg.)
Tradução Ronaldo Cagiano

Amanhecer

*Arturo Herrera
As árvores vão tocar o alvorecer;
a folharada úmida já foi amada.
Aqui, embaixo, os murmúrios e ruídos;
a alma se estremece nas veredas;
ninguém reconhece os pássaros;
as flores vivem como a brisa quer
o espaço silente e a intimidade morrem.
A praça nos salva de algumas mortes.

*Arturo Herrera
(San Fernando de Catamarca - Arg.)
Tradução Ronaldo Cagiano

Irreflexos






A frescura lilás das violetas
frente às águas da tarde.
É crepúsculo nas trepadeiras da varanda.

A noite que chega mansa
transfigura os cicios das gotas
em vespas sobre as flores.

O coração alegra-se com as dores do amor
cravadas em sua forma
recortada em duas dálias rubras.

Levanta-se o forro do mundo
e a terra do céu
cai sobre a vida
– bálsamo do que se quebrou nas alturas.





Lina Tâmega Peixoto (Brasília - DF)

12 de abril de 2010

o que é poesia?


É tão fácil ser poeta, e tão difícil ser um homem.



Charles Bukowski

24 de fevereiro de 2010

Homo sapiens

*Flausina Márcia da Silva


Enquanto passa o vento
também corre o tempo
nas veias do meu tambor.

Há um espírito
rondando todos
que espelham
dois braços
um abraço
um amor.

Me diga seu nome
de batismo ou suador
nos encontraremos
na Grécia
China
ou Equador.

Rio Acima, mar adentro
é sempre carne de barro
que desfaz e refaz o perigo
nosso amigo desde sempre.

São coisas diferentes
o andaime e o andor
são só passos
sua casa
minha cruz.
*Flausina Márcia da Silva (Cataguases - MG)

Anna Swirszczynska

Ana Swirszczynska (Varsóvia 7/2/1909 – Cracóvia 30/09/1984) Em algumas edições ocidentais seu sobrenome aparece simplificado (Swir). Sua obra aborda temas variados indo de referências autobiográficas, suas experiências durante a II guerra, a maternidade o corpo feminino e a sensualidade. Nasceu em uma família de artistas humildes, publicou seus primeiros poemas nos anos 30. Durante a ocupação nazista participou da Resistência e publicou em revistas clandestinas. Em 1944 durante o Levante de Varsóvia atuou como enfermeira. Estas experiências durante a guerra refletiram em sua obra - Budowalam barykade (Levantando a barricada, 1974) - onde descreveu a dor e o sofrimento daqueles tempos. Também escreveu com grande sinceridade sobre o corpo feminino durante distintas etapas de sua vida.
Ele tinha sorte

Um velho homem
sai de casa carregando livros.
O soldado alemão arranca-lhe os livros
atirando-os à lama.

O velho homem apanha-os,
o soldado acerta-lhe a cara.
O velho homem cai,
o soldado chuta-lhe e sai caminhando.

O velho homem
atirado na lama sangra.
Embaixo do corpo sente
os livros.

O segundo madrigal


Uma noite de amor
deliciosa como um
concerto dentro da velha Veneza
executado por deliciosos instrumentos.

Saudável como a
bunda de um anjinho.
Erudito como
formigueiro
Extravagante no ar como
o sopro dentro do trumpete
Copioso como o reino
de um casal negro
sentado em dois tronos
moldados em ouro.

Uma noite de amor com você,
É uma grande e fantástica batalha
com dois vitoriosos.
Tradução de José Antonio Pereira

10 de fevereiro de 2010

Fragrâncias noturnas

*Leonardo de Paula
A dúvida visitou minha noite
e espalhou seus segredos.
De súbito, acordei meus olhos,
Para enxergar os sonhos
E despertar as certezas.
*Leonardo de Paula Campos (Cataguases – MG)