4 de março de 2011

Meio dia a palavra....


Meio dia a palavra paralelepípedo

Queimava meus pés,

Desde então, nenhuma outra me mete medo

Só nomes próprios.



De: O Capim Sobre o Coleiro



Marcelo Benini

3 de março de 2011

Um poema de Leonardo Campos



No silêncio do verso:
o reverso;
um retorno ao ser.

No silêncio do verso
o semitom;
o inconcluso da existência.

No silêncio do verso
a utopia
a fantasia em absurdos tons.

No silêncio do verso
o espaço
toda a inspiração em largos traços.

Leonardo Campos 

24 de janeiro de 2011

O ocaso nas letras

Romantismo:

“O sol declinava no horizonte.” – José de Alencar


Modernismo:
“A tarde suicidava-se como Petrônio.” – Oswald de Andrade


Pós-modernismo:
“Caía a tarde feito um viaduto.” – João Bosco-Aldir Blanc


Atemporal:
“O sol amuntava na cacunda da serra.” - Geraldinho

Antonio Jaime Soares

6 de setembro de 2010

O rio da minha infância

Cansado o sol escorre por traz da montanha.
Olho o imundo rio de pele suja e morta,
encobre-no encardidas nuvens de espumas.
Corro, tropeço em trilhas turvas pelas sombras.

Fujo das sombras que me aterrorizam
são peixes enormes escamados pela soda
caranguejos monstros amputados pelos ácidos.

Entre os sujos casebres do beco do Haroldo
corta o vento quente soprado da papeleira,
é o podre mau hálito, o cheiro do lucro,
a morte rondando a minha infância.



Antônio Perin

Pergunta oportuna aos que lêem o livro

Uns querem pão e água, amor e poesia.
Outros justificam suas atitudes com palavras duras.
Uns procuram poder e dinheiro e ostentar autoridade.
Outros trabalham de sol a sol e agradecem pela vida.
Uns dominam máquinas e moram em palácios.
Outros têm o luar por travesseiro.

Uns conquistam impérios e possuem latifúndios.
Outros constroem um muro de fé sobre colunas de barro.
Uns têm fábricas e seus rebanhos lotados em grandes linhas de montagem.
Outros não têm onde descansar sua cabeça.

Uns e outros são entes humanos e rumo ao ignorado,
os muitos que foram chamados e os poucos escolhidos.
Mas o que lhes restará quando a vida, frágil
Brinquedo, se acabar?

Emerson Teixeira Cardoso

16 de julho de 2010

Canto Final

Hoje eu sei

meu couro é negro
pele e pelos
curtidos
no sal e sol do atlântico
marcados no açoite
calejados no peso do trabalho.

Sei que
minha carne é branca
adaptável
se ajusta a toda latitude
qualquer lonjura
leva anticorpos
coletados por todo lado
memória do muito andado
de tomar mandar predar
num mundo navegado.

Já, os ossos
são da terra
brasis
pau-ferro duro de roer
nativo índio
impossível dobrar
duro de queixo
herança de minha
avó
(bisavó tetravô quem sabe?)

do mato
pega a laço
coitada prenha
viveu pra
cuidar a cria.

Hoje sei.
Hoje.

Fernando Abritta (Juiz de Fora)