9 de janeiro de 2008

Poetas - Zeca Junqueira

Dedicado a Allen Ginsberg
e aos cronistas da Casa da Rua Alferes

É preciso extrair a seiva da poesia,
reduzir o verso ao mínimo,
à emoção pura
palavras nuas e essenciais, sem nenhum pudor
não escondam a loucura.
De que servem nossas vestes de poetas, nossa obscura linguagem,
de que serve o nosso falseado ritmo se no tempo de uma linha,
no tempo em que soberbos escrevemos versos – só versos,
ratos e baratas bebem sangue inocente nos esgotos das cidades?
Fazemos poesia e vista grossa à injustiça e à covardia?
Não escondam a loucura
dêem o nome certo, apontem o dedo, mostrem, escrevam nas ruas,
escrevam nos muros, nas portas, nas janelas, na pele, na ira e no desânimo das pessoas,
escrevam onde todos possam ler – reconstruam a esperança.
Que a poesia seja bem plantada e colhida publicamente em jardins reinventados
que a beleza rompa o silêncio dos livros, a inércia das estantes,
a futilidade dos títulos e aplausos.
Poesia é rumo, pois que oriente
poesia é pão, pois que alimente.
Não escondam a loucura.

Zeca Junqueira

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